A virada do século 20 engavetou o visual comportadinho do mundo clássico, e ousadas formas de representação assumiram o trono da modernidade. A realidade passou a abraçar o sonho se arremessando nos abismos descortinados por Sigmund Freud (1856-1939), o pai da psicanálise.
O universo do surrealismo ignorou as leis da física, desrespeitou qualquer tradição e invadiu o terreno do fantástico ao atribuir alma a objetos inanimados. “Tudo o que é contraditório cria vida”, ensinou Salvador Dalí (1904-1989), pintor, escultor e o maior profeta desse apocalipse estético. Depois disso, a permissão para criar loucamente nunca mais foi negada, como prova a seleção destas páginas. Aprecie sem medo.
“Ovo que se abre”: a fim de driblar restrições legais belgas a um anexo residencial, o estúdio dmvA imaginou esta estrutura de madeira móvel, finalizada com lâmina de poliéster
À la Dalí: poltrona de bronze polido Leda traz a assinatura do surrealista.
Minioplanta: gotas inseridas em furos na cúpula de vidro mantêm a vida dentro do “Domsai” (11 x 24 cm), invenção do italiano Matteo Cibic
Mundo animal: feito à mão, o sapato Stork, do israelense Kobi Levi, traz salto fino (12 cm) que imita as pernas da cegonha
Realismo mágico: Jake Phipps bolou as luminárias da linha Jeeves %26 Wooster inspirado nos chapéus da elite britânica – item recorrente na obra de René Magritte (1898-1967)
A janela sumiu: o projeto do escritório português Aires Mateus, a luz e a ventilação entram por claraboias abertas no gramado (protegidas por invisíveis redes de náilon), e alcançam a área social no subsolo
Pura animação: de bétula, a estante (0,66 x 1,90 m) de Vincent Dust bem que poderia ter saído de um desenho animado
Releitura: o clima excêntrico do Carnaval veneziano, com suas máscaras, foi expresso no vaso Murana (38 cm de altura) pelo designer Fabio Novembre para a italiana Venini
Tempo, tempo: produzido pela Can You Imagine, o melting Clock alude à obra A Persistência da Memória, de Dalí