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Arquitetos e urbanistas são fundamentais para a promoção da saúde pública

Pandemia do Covid-19 apresenta um desafio para médicos e arquitetos e urbanistas, considerando que o princípio de uma vida saudável começa num ambiente digno e saudável

 

 

Arquitetura e Saúde foi o tema da série de lives Cidades em Distopia, promovida pelo IAB de Pernambuco, no dia 10, que tem discutido as consequências da pandemia da covid-19 no mundo e em especial no Brasil. O debate sobre saúde pública e planejamento urbano foi realizado entre o presidente do CAU/RS, Tiago Holzmann; o médico epidemiologista da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte Íon de Andrade; e presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Pernambuco (IAB-PE), Roberto Ghione.

 

Para os debatedores, a pandemia do Covid-19 apresenta um desafio para médicos e arquitetos e urbanistas, considerando que o princípio de uma vida saudável começa num ambiente digno e saudável. Cidades sadias são direitos humanos que viraram uma utopia no pensamento dos arquitetos e urbanistas progressistas no Brasil, juntamente com outras reivindicações, segundo Roberto Ghione. Para ele, o resultado de décadas de descaso gera um ônus enorme que recai entre os mais pobres.

 

A pandemia coloca na horizontalidade diferentes campos do conhecimento para discutir os direitos urbanísticos, como observou Ghione. Nesse contexto, o médico Íon de Andrade ressaltou algumas dificuldades enfrentadas pelas famílias que residem em casa minúsculas, impossibilitadas de adotar ações emergenciais como o isolamento, fundamental para que a contaminação não se alastre.

 

“Iniciativas das comunidades, como utilizar as escolas públicas como espaços para abrigar as pessoas mais vulneráveis, principalmente idosos durante a quarentena, a exemplo do que está acontecendo em Paraisópolis, em São Paulo, seria uma grande iniciativa. Isso deveria ser adotado como um plano nacional, mas o grande problema no Brasil é que enfrentamos um governo federal irresponsável, para dizer o mínimo. Cada Estado, cidade e comunidade adota iniciativas locais porque não tivemos um plano nacional de contingência contra a covid-19”, registra Ion.

 

Diante de outra recomendação da pandemia: cuidar da higiene, tanto o médico quanto os arquitetos e urbanistas têm a mesma avaliação: cruzamos o século 21 com problemas do século 18. Isso porque grande parte das moradias brasileiras sequer possuem água, saneamento básico, esgoto e luz elétrica, fatores que inviabilizam condições básicas de higienização e saúde.

 

No enfrentamento das dificuldades, Tiago Holzmann apresentou o projeto Nenhuma Casa sem Banheiro, do CAU/RS, que vai construir 11 mil banheiros na região, para suprir um déficit apontado pelo IBGE, que obviamente é muito maior, mas essa foi a meta estabelecida pelo conselho para atender a demanda urgente do fique em casa e lave as mãos. “Essa recomendação condena grande parte da população a não ter como enfrentar a pandemia, pois uma parcela muito importante da nossa sociedade não pode lavar as mãos, não tem acesso a água potável, sabonete toalha e a casa dessa pessoa não é um ambiente que oferece segurança”, ressaltou Tiago. O projeto foi assinado dia 10, e conta com a parceria de diversas entidades da Arquitetura, governo local, da ONU-Habitat e do CAU/AL.

 

Unindo Arquitetura, Urbanismo e Saúde o CAU/RS firmou um convênio com um município do Estado para incluir arquitetos e urbanistas nas equipes do programa Estratégia Saúde da Família (ESF). Estes profissionais atenderão diretamente as famílias reformando, qualificando e melhorando as moradias. Segundo Tiago, a ação promoverá a saúde e ainda economizará recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).

 

“Tenho um levantamento de que o custo do tratamento de uma pessoa que tem tuberculose é de R$ 1.700 em média. Se ela for reincidente custará R$ 3.500 e se for hospitalizada custará R$ 30 mil. Com esse dinheiro dá pra construir uma casa nova e vamos curar uma pessoa, pois esse tipo de doença é adquirido num ambiente mal iluminado e sem ventilação, questões que são solucionadas pelo trabalho do arquiteto”, informou. O presidente do CAU/RS ressaltou que a proposta tem tido uma receptividade muito boa dos profissionais da área da saúde.

 

A presença do arquiteto e urbanista nas Equipes de Saúde da Família (ESF), segundo Tiago Holzmann, é fundamental para “curar” uma família, que reside em comunidade vulnerável de várias enfermidades que têm origem nas doenças da casa. Para o epidemiologista Ion de Andrade, muitas vezes problemas que são constatados pelas ESF ficam sem resposta no campo da saúde porque são de outras áreas e geralmente não dialogam porque não há política de interface, o que torna o problema insolúvel. “Acho importante o que o Tiago propõe não só pela atuação que o arquiteto deve ter no contexto da saúde, mas também, por uma articulação intersetorial nas secretarias”, defende.

 

“Eu diria que o arquiteto poderia não só construir a agenda da moradia, como ser, também, fator de promoção e fomento da organização comunitária enxergando horizontes que são mais do que necessários. São gargalos na elaboração do nosso tecido social e uma razão, inclusive, para todo o mal-estar social em que vivemos, porque a juventude não tem oportunidades, o que, por exemplo, produz uma violência indescritível e resulta do fato de que as aspirações das pessoas não são correspondidas. Acho que tem toda uma agenda muito importante que pode ser de colaboração do arquiteto e seria necessário sensibilizá-lo para essa comunhão com as comunidades”, defende Ion.

 

Confira outras resenhas de webinars e debates no especial CIDADE E HABITAÇÃO PÓS-PANDEMIA

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