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Dora Alcântara recebe Colar de Ouro, maior comenda do IAB

A condecoração avalia o conjunto de obras e serviços prestados à profissão. Dora Alcântara é a segunda mulher a receber a comenda, depois da arquiteta e paisagista paulista Rosa Kliass.

 

A arquiteta e urbanista Dora Alcântara foi indicada pelo Departamento do Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/RJ) para receber a maior comenda da entidade, o Colar do IAB. A indicação foi aprovada na reunião do Conselho Superior do Instituto realizada, virtualmente, entre 16 e 18 de abril. Dora é a segunda mulher a receber a comenda desde 1967.

 

Dora Alcântara, professora aposentada da Faculdade de Atquitetura e Urbanismo da UFRJ e maior especialista em azulejos do Brasil. Na foto, ela aparece em casa, na Lagoa, com um painel do século XIX de uma construção demolida em São Luís, no Maranhão Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo

 

Mais conhecido como Colar de Ouro, a condecoração avalia o conjunto de obras e serviços prestados à profissão. Para a arquiteta e urbanista, copresidente de políticas de gênero do IAB-RJ, Marcela Abla, a visibilidade à trajetória profissional de uma mulher pioneira é o que permite que a arquitetura e urbanismo possua, hoje, majoritariamente, mulheres em sua atuação, e faz de Dora uma representação da diversidade que esse campo profissional possibilita. “Sua carreira é uma inspiração e referência para as mulheres e os atuais profissionais e a coloca na vanguarda da arquitetura e urbanismo”, afirmou.

 

Dora Monteiro e Silva de Alcântara nasceu no Rio de Janeiro em 1931. É graduada em 1957 na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, atual Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ). Estudiosa da azulejaria luso-brasileira, suas principais atividades são as ações em defesa da preservação do patrimônio cultural e do ensino da arquitetura brasileira.

 

Próxima de completar 90 anos, Dora ainda se apresenta como sócia titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) no Rio de Janeiro, Petrópolis e Paraguai; como membro do Conselho Estadual do Departamento do Rio de Janeiro do IAB/RJ; e representante do Conselho Estadual de Tombamento do Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac).

 

A arquiteta e urbanista já havia recebido homenagens e prêmios do IAB/RJ, nas 8ª e 9ª Premiações Anuais, mais de 40 anos atrás. Além disso, também recebeu homenagens da FAU/UFRJ e do Iphan, sendo distinguida com a medalha de Mérito Profissional, no então Conselho Regional de Arquitetura, Engenharia e Agronomia do estado do Rio de Janeiro (Crea-RJ); foi indicada pelo IAB/RJ no ano de 2003 para receber a homenagem 10 mulheres pioneiras em suas profissões – “Arquitetas e engenheiras: mulheres à frente de seu tempo”, realizada pelo Clube de Engenharia, IAB/RJ, pela Academia Nacional de Engenharia- ANE, ABEA e SEAERJ. Em Lisboa, Portugal, recebeu o prêmio SOS Azulejo em 2018, na categoria “Personalidade”, por sua “obra científica da maior relevância” e por ser autora de grande projeção no estudo do azulejo luso-brasileiro.

 

O presidente do IAB-RJ, Igor de Vetyemy, que apresentou o pleito ao Conselho Superior do IAB, conta como a reação da homenageada só corroborou a pertinência e relevância dessa escolha. “Conhecendo a energia com que Dora segue batalhando por tudo em que acredita, do alto de suas quase 9 décadas de vida, não me surpreendeu – mas não deixou de me emocionar – o fato de que a reação imediata dela não foi relacionada ao orgulho e prazer pessoal em receber a homenagem. Foi de uma satisfação mais ampla, por ver um Instituto de Arquitetos do Brasil que compreende a importância de homenagear não apenas profissionais que se dedicaram a desenvolver uma carreira autocentrada, com uma assinatura forte em seus trabalhos. A felicidade dela foi ver o IAB homenageando profissionais que dedicaram a vida inteira a ações cuja importância não se registra nas páginas de seus currículos, mas sim, no desenvolvimento da cultura do país, como o magistério e o patrimônio, duas de suas contribuições mais extensas a nossa sociedade”, afirmou.

 

A outorga foi aprovada unanimemente em ambas as instâncias necessárias: no grupo de conselheiros vitalícios, formado por ex-presidentes nacionais da entidade, e no Conselho Superior, composto por presidentes de departamentos, copresidentes, vice-presidentes e membros do Conselho Superior de cada estado. Pela primeira vez em 99 anos de história da entidade, o encontro foi realizado virtualmente, por conta das medidas de segurança frente à pandemia.

 

A arquiteta e urbanista Dora Alcântara é a segunda mulher a receber a comenda, depois da arquiteta e paisagista paulista Rosa Kliass, em 2019. Durante as décadas de premiação, a homenagem já foi outorgada a 42 homens e reúne nomes como: Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx.

 

Confira abaixo a íntegra da entrevista de Dora Alcântara ao site Rio Capital Mundial da Arquitetura:

 

RCMA – Como se sentiu ao saber sobre a homenagem?
DORA – Acho que o IAB é quem está de parabéns por escolher um profissional, não pela sua genialidade, mas que fez coisas importantes no exercício da profissão. A maioria de nós, arquitetos e professores, somos assim, trabalhamos muito no dia a dia. Muitos fazem trabalhos belos e interessantes e sem assinatura em destaque. Compartilho esta homenagem com todos os colegas.

 

RCMA –  O que marcou a senhora na atividade profissional?
DORA – Lembro que na Faculdade de Arquitetura de Barra do Piraí, onde trabalhei por 16 anos, orientei os alunos em pesquisa e projeto de restauro das fazendas bonitas que estavam decadentes, abandonadas. Com autorização dos proprietários, fizemos levantamento deste locais, estudamos estilos na região cafeeira, redesenhamos as plantas. Foi um trabalho maravilhoso, bem recebido e utilizado pelos donos das fazendas.

 

RCMA –  Mais algum que mereça ser destacado na sua história?
DORA – Muitos merecem. Por exemplo, gostei bastante de fazer, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a série de levantamentos dos sobradinhos da área da Praça XV, no Centro do Rio. Estavam desfigurados. Redesenhamos com as plantas das fachadas originais. Foram valorizados após muitas pesquisas.
Também gosto de citar o trabalho que fiz com o meu marido (falecido há 21 anos), Antônio Pedro Gomes de Alcântara, na cidade que tinha o nosso nome no Maranhão: Alcântara. Resgatamos a origem arquitetônica e econômica do lugar.

 

RCMA – Qual o maior prêmio que já recebeu?
DORA – São os muitos alunos amigos que mantenho até hoje. Esta foi a maior premiação da minha vida: sentir que o que fiz foi útil para alguma coisa.

 

RCMA – Fale sobre a pandemia do novo coronavírus?
DORA – Só queria ver a humanidade livre deste flagelo. É importante seguir a série de instruções que os arquitetos estão passando sobre tratamento da casa e de hospitais, para conviver com isso.

 

RCMA – Um orgulho?
DORA – Ver o meu neto, o arquiteto Lucas Alcântara Rangel da Costa, tão ocupado na montagem de um hospital de campanha em São Paulo. Ligo e pergunto logo, “Lucas, está ocupado?” Muitas vezes, atualmente, ele responde: “Ih, vó. To mesmo”. Me enche de orgulho demais.

 

 

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