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Melnikov e os Clubes de Trabalhadores de Moscou: traduzindo ideais soviéticos em arquitetura

Konstantin Melnikov (03 de agosto de 1890 – 28 de novembro de 1974) desempenhou um papel fundamental na formação da arquitetura soviética a partir de meados dos anos vinte até os anos trinta, apesar de ser independente dos construtivistas que dominaram a arquitetura da época. Além de seu renomado pavilhão para a URSS na Exposition des Arts Decoratifs, em Paris (1925), Melnikov era famoso em Moscou pela construção dos clubes de trabalhadores, por sua própria casa e pelas suas garagens de ônibus.

Com esta recente série de fotos, o fotógrafo Denis Esakov (que agora está à procura de uma editora para produzir um livro de fotografias com o conjunto completo de quase 600 imagens) criou uma oportunidade única para explorar – tanto dentro como fora – todos os 12 projetos de Melnikov que moldaram a arquitetura de Moscou durante a era soviética.

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Após a Revolução de 1917, Lenin colocou a Nova Política de Economia (NEP) em ação para que o país pudesse recuperar a prosperidade após anos de guerra civil. A indústria da construção, que havia cessado no início da Primeira Guerra Mundial, estava enfrentando um programa intenso de construção. Habitações coletivas, infraestruturas governamentais e equipamentos coletivos foram surgindo em toda Moscou. Esperava-se que os arquitetos seguissem o programa bolchevique, pensando em termos de economia, racionalização e padronização. O objetivo era dar a todos o acesso a padrões semelhantes de vida, mas também apresentar os mais recentes avanços técnicos na indústria da construção civil russa: a alegação de superioridade em relação aos países ocidentais.

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Novo-Ryazanskii Garagem de Onibus, 1929. Imagem © Denis Esakov

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Bakhmetevsky Garagem de Onibus, 1926. Imagem © Denis Esakov

Melnikov foi encarregado de construir infraestruturas públicas, em geral  garagens de ônibus – Bakhmetevsky Bus Garage (1926), Garagem Intourist (1934), e Gosplan Garage (1936), bem como o Escritório do New Sukharev Market (1924). Ao invés de experimentar novas tecnologias – como os construtivistas fizeram – Melnikov trabalhou com os materiais disponíveis nas indústrias de madeira, tijolo e cimento que resistiram a Guerra Civil. Para seus telhados, ele usou alongadas vigas de aço: um método de construção que já era difundido na Rússia [1]

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Melnikov Residência, 1929. Imagem © Denis Esakov

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Melnikov Residência, 1929. Imagem © Denis Esakov

Da mesma forma, ao projetar sua própria casa no bairro de Arbat, Melnikov decidiu atualizar técnicas de alvenaria tradicionais, concentrando tensões em partes específicas da estrutura. Enquanto a janelas contribuíram para o aspecto estético e forneceram luz natural, sua função primária era, na verdade, canalizar e concentrar cargas estruturais. Portais hexagonais foram colocados uniformemente em toda a estrutura de tijolos. Alguns foram preenchidos com isolamento, enquanto outros funcionavam como janelas. Ao fazê-lo, Melnikov racionalizada um método existente, utilizando indústrias locais, e usou recursos materiais com moderação, o que fez o projeto mais viável economicamente. [2]

A casa também exemplifica como Melnikov montava volumes, brincava com ângulos agudos e apresentava uma certa simplicidade de linhas. Interiormente, Melnikov privilegiava a abundância de luz natural e a clareza de cores. Melnikov pensava que arquitetura era uma “arte volumétrica e espacial” e desmentiu métodos construtivistas ‘ “socialmente responsáveis” que racionalizaram o processo de projeto sob uma ideologia funcionalista. [3]

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Clube da Fábrica Kauchuk, 1929. Imagem © Denis Esakov

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Clube da Fábrica Kauchuk, 1929. Imagem © Denis Esakov

Além disso, Melnikov esteve envolvido no desenvolvimento de uma nova tipologia do edifício, os clubes dos trabalhadores, que promoveram a vontade do governo soviético em criar um ideal coletivo. Como um elemento afastado da era czarista, os clubes não acolheram a elite, mas as massas da sociedade. Liderados por sindicais ou organizações políticas, eles ofereceram atividades criativas e permitiram que as pessoas de qualquer idade pudessem descansar e ficar longe das fábricas ocupadas e do desconforto de casas superlotadas. Os clubes dos trabalhadores também implementaram a ideia de uma nova ordem social e coletiva, que o pintor construtivista e designer El Lissitzky afirmou sabiamente: “Dependendo da ordem social predominante, [edifícios projetados para servir toda a sociedade] têm sido geralmente de ordem religiosa ou de carácter governamental: a Igreja e o Palácio. Estas foram as fontes de energia da antiga ordem. Seu poder só pode ser superado através da criação de novas fontes de energia que pertencem à nossa nova ordem “. [4]

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Clube Rusakov, 1929. Imagem © Denis Esakov

Melnikov foi o primeiro a encontrar uma solução de projeto que se adaptasse às novas funções e necessidades sociais dos clubes dos trabalhadores. Antes dele, os primeiros clubes de trabalhadores se referiam à edifícios de teatro ou ópera, com elementos rococó, orquestras, formas orgânicas, lobbies supérfluos e materiais extravagantes. [5] Embora Melnikov concebessem seus clubes de trabalhadores com um auditório central, semelhante aos tradicionais centros culturais, ele entendeu a crescente necessidade de flexibilidade. O espaço pode ser utilizado por diferentes grupos de amadores, para diferentes tamanhos de audiência e os tipos de produção. O clube de Melnikov para a fábrica Kauchuk (1929) foi equipado com divisórias móveis para delimitar espaços maiores ou menores, dependendo da ocasião. Este era um conceito persistente durante todo o trabalho de Melnikov em relação aos clubes dos trabalhadores. No conhecido clube Rusakov (1929), os auditórios poderiam “ser transformados em espaços para 350, 450, 550, 775, 1000 ou 1200 pessoas.” [6]

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Clube Rusakov, 1929. Imagem © Denis Esakov

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Clube Rusakov, 1929. Imagem © Denis Esakov

Editores interessados no photobook de Denis Isakov podem entrar em contato através desse link.

Referências:

  1. Catherine Cooke ed., Russian Avant-garde: Art and Architecture (London: Academy Editions, 1983), 61.
  2. Ibid, 62.
  3. Andreas C. Papadakis ed., The Avant-garde: Russian Architecture in the Twenties (London: Academy Editions, 1991), 15-7.
  4. El Lissitzky, Russia: An Architecture for World Revolution, trans. Eric Dluhosch (Cambridge, MA: MIT Press, 1970), 43.
  5. Anatole Kopp, Town and revolution; Soviet architecture and city planning, 1917-1935, trans. Thomas E. Burton (New York: G. Braziller, 1970). Texto extraído aqui.
  6. Papadakis, 17.

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